terça-feira, 26 de abril de 2016

O pecado de adultério e o ministério pastoral


Em 1ª Timóteo 3.2-7, Paulo enumera as qualificações imprescindíveis para o exercício do ministério pastoral. A lista é estruturada por aquilo que é chamado de “inclusio” (dispositivo literário em forma de parêntesis). O primeiro requisito (verso 2a) é que o ministro seja “irrepreensível”; o último (verso 7) que tenha “bom testemunho dos que estão de fora”. Em consequência os requisitos para o ministério exigem no todo que o candidato esteja acima de qualquer repreensão. A não observância de quaisquer requisitos o desqualifica para a função.
Assim, o ministro deve ser “irrepreensível” também no casamento. Não deve ser alvo de reprovação da sociedade ou da comunidade cristã em seu relacionamento conjugal. Sua conduta matrimonial não pode macular a reputação da igreja.
Muitos debates têm surgido acerca do significado da expressão paulina “marido de uma mulher” (1Tm 3.2b) que também pode ser traduzida como “homem de uma única mulher”. Os questionamentos giram em torno de uma possível alusão apostólica desfavorável a poligamia, ao concubinato, ao divórcio ou infidelidade no casamento. Vamos então aos argumentos prós e contras a estas interpretações:
A poligamia, embora praticada, era contrária a lei romana. E entre os judeus a monogamia era a regra mais aceita. O concubinado, apesar de ser o único meio dos soldados viverem maritalmente, não era prática habitual fora do Exército. O divórcio, ainda que socialmente aceito de modo trivial entre judeus e pagãos, no cristianismo primitivo só era tolerado em casos de adultério (Mt 19.9) ou de abandono do lar (1Co 7.15). A infidelidade matrimonial, por sua vez, era conduta condenada e desprezível, tanto no judaísmo quanto no cristianismo incipiente (Êx 20.14; Mt 5.27,28).
Mercê das evidências do ambiente cultural à época, em que a sociedade cristã e pagã não via com bons olhos apoligamia e nem o concubinato, conclui-se, então, que, embora não excluídos, não são a poligamia e o concubinato o foco principal da instrução de Paulo em análise. Resta então saber se é o novo casamento após o divórcio trivial ou a infidelidade conjugal que desqualifica candidatos para o ministério pastoral. O texto bíblico permite as duas possibilidades. O candidato divorciado por motivo incompatível com as exceções bíblicas (Mt 19.9; 1Co 7.15) e aquele que, enquanto casado, tenha praticado adultério. Os candidatos que tenham incorrido na prática de um destes casos, não preenchem o requisito bíblico de “homem de uma única mulher” e portanto inabilitado para o exercício do ministério pastoral.
Certamente que os envolvidos em quaisquer destas situações, ao confessarem o pecado, receberão o perdão de Deus. Contudo há de se fazer uma diferença entre ser perdoado e ser qualificado para o ministério. Se os fatos tenham ocorrido antes da conversão “Deus não levará em conta o tempo da ignorância” (At 17.30). Porém, se, tais erros forem cometidos após a conversão, como pecador arrependido recebe perdão, mas como candidato ao ministério torna-se incapacitado.
A culpa na dissolução do casamento não se harmoniza com a retórica paulina: “Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” (1Tm 3.5). De outro lado, a prática “do pecado contra o próprio corpo, que é templo do Espírito Santo” (1Co 6.18,19), imprime no transgressor uma “mancha moral” inconciliável para o exercício pastoral. Salomão asseverou que a vergonha e a infâmia da infidelidade acompanharão o adúltero pela vida inteira: Mas o que adultera com uma mulher é falto de entendimento; aquele que faz isso destrói a sua alma. Achará castigo e vilipêndio, e o seu opróbrio nunca se apagará” (Pv 6.32.33).
Tenho discutido esta exigência paulina no meio acadêmico com teólogos renomados, nos cursos preparatórios de aspirantes ao ministério e no meio eclesiástico com ministros ordenados. Os debates têm sido calorosos. Uns contra e outros favoráveis a posição aqui defendida.
Confesso que como cristão gostaria que fosse possível à restauração ao ministério pastoral do obreiro em falta neste quesito (pecado de adultério). Porém como intérprete comprometido com as Escrituras discordo que homens adúlteros permaneçam no exercício pastoral. Sou convicto que a interpretação bíblica exclui do ministério pastoral aqueles que se envolvem com o divórcio trivial e o adultério. Ainda não fui persuadido do contrário. Os que não concordam com esta posição aqui defendida, apresentam diversas conjecturas, opiniões pessoais e ainda a “práxis” da igreja contemporânea. Porém, tais conjecturas são biblicamente refutadas: “o Ministro deve ser irrepreensível e com bom testemunho dos que estão do lado de fora da Igreja” (1Tm 3.2,7).
Reflita sobre isso!
Douglas Roberto de Almeida Baptista

sexta-feira, 15 de abril de 2016

ELAD na Assembleia de Deus Ministério do Belém Santos-SP




Encerramento da ELAD da CONFRADESP na Assembleia de Deus Ministério Belém Santos/SP, juntamente com os pastores Gessé Adriano,Pastor José Wellington Costa Junior, Jesiel Padilha, Missª Dirley Baptista e Pr. Emanuel Silva. Hoje inicia mais um Seminário de Celebração dos 500 anos da Reforma Protestante

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O Cristão e o Voto Consciente - Mensageiro da Paz (Abr/2016)

Por muitas décadas a política foi satanizada no meio evangélico. Ensinava-se que a política era coisa do diabo. Como resultado desta ignorância cultural, a igreja permitiu com sua omissão, que o poder público fosse exercido por ateus, ímpios e imorais. Pela inexistência de consciência política os evangélicos se resignavam em votar no candidato “menos pior”. Este comportamento desastroso contribuiu com a eleição, por exemplo, de governos formados de adeptos do “laicismo fundamentalista” (em oposição aos valores cristãos) “manipuladores de dados” (na imposição do senso comum) e “opositores da liberdade religiosa” (na elaboração de leis secularistas). A sociedade passou a ser massacrada pela corrupção, usura, suborno, imoralidade e violência assustadora. 
Consciência política 
Aos poucos, diante do cerceamento de algumas liberdades, a igreja começou a despertar para a realidade política. As mudanças e as transformações sociais passam pelo processo político. Por que então não eleger candidatos que reproduzam a moral cristã? Por que não apoiar políticos não corruptos e que rejeitam as leis contrárias aos princípios cristãos? Para que isso seja possível faz-se necessário que a igreja amadureça e desfrute de “consciência política”. A igreja deve ser consciente das questões que são debatidas nas Assembleias Legislativas e Congresso Nacional. A conscientização deve ser fundamentada em princípios cristãos. As propostas e as ideologias dos partidos políticos devem ser analisadas sob a ótica cristã. A postura, as propostas e os ideais do candidato precisam ser avaliados à luz das Escrituras. Esta conscientização tem florescido. Os evangélicos, antes marginalizados pelos políticos, começaram a experimentar o poder do voto. Em outubro de 2010, na campanha presidencial, o voto dos evangélicos forçou o segundo turno nas eleições. Uma demonstração que o cristão pode fazer valer suas convicções se votar conscientemente. Mercê desta realidade, um movimento cada vez mais crescente, acredita que é possível moralizar o poder público, substituindo os políticos corruptos e liberais por políticos cristãos e conservadores.
O perigo da politicagem 
Como em algumas das igrejas a conscientização política ainda é incipiente, faz-se necessário um alerta referente ao perigo da politicagem. Os dicionários em geral conceituam politicagem como: “política reles e mesquinha de interesses pessoais”. O perigo dos atos politiqueiros é colocar em descrédito o evangelho e a igreja cristã. O cristão fiel jamais pode compactuar com este procedimento. Os princípios cristãos não podem ser negociados. A ética e a moral cristã não podem ser vendidas e nem compradas. Aqueles que são contrários as convicções cristãs não podem receber o apoio e nem o voto da igreja. O cristão não pode se iludir com o esplendor das promessas e nem com as supostas garantias apresentadas pelos candidatos. Os que não compartilham os ideais do evangelho não devem ser homologados pelo povo de Deus. No cristianismo primitivo a igreja em Corinto foi advertida a observar este princípio (2Co 6.14). Contudo, apesar da orientação bíblica, obreiros fraudulentos ludibriam e manipulam as ovelhas sob seus cuidados. Interessados em levar vantagem pessoal não hesitam em apoiar candidatos políticos contrários a fé cristã. Vislumbram benefícios econômicos e “status” social. Sem nenhum pudor, ao leve toque musical, prostram-se diante da estátua de Nabucodonozor e com esta conduta negam a fé e maculam o o nome de Cristo. Estão interessados emmanter ou adquirir privilégios e indispostos a sofrer retaliações por causa do evangelho. Não satisfeitos em apoiar candidatos de conduta repreensível, soma-se a este erro, o uso da mídia e do púlpito da igreja para promover apoio a candidatos que vivem na iniquidade. O cristão é cidadão e deve exercer sua cidadania. Contudo, não pode esquecer que também é cidadão do céu. Como Embaixador de Cristo representa os interesse do reino de Deus na terra. Portanto, não pode apoiar, nem permitir ou promover apoio aqueles que afrontam o reino de Deus. Resistência reinante
Apesar de a conscientização estar florescendo ainda existe focos de resistência. Não poucos crentes são contrários ao envolvimento da igreja ou a posição pastoral em relação à política. Acreditam que a igreja não pode comprometer-se com o poder temporal sob o risco dos escândalos. O argumento dos escândalos não se sustenta, pois infelizmente eles são inevitáveis (Mt 18.7). Não é por causa de uma maça podre que vamos recusar a cesta toda. Como a igreja está engatinhando neste mister, cabe ao líder o uso de diplomacia e prudência. É importante levar em consideração o aspecto cultural e o grau de instrução da membresia. Suas convicções devem ser ouvidas e respeitadas. Qualquer persuasão só pode ser levada em efeito sob a autoridade da Palavra de Deus. Todo o cristão deve ser conscientizado que como discípulos de Cristo devemos andar como Ele andou (1Jo 2.6). Neste caso, é de bom alvitre, que cada cristão faça a seguinte pergunta reflexiva: “Em meus passos, que faria Jesus?” Será que Cristo apoiaria a corrupção, a violência e a imoralidade? 
Como delimitar nossa atuação
Os princípios éticos devem ser observados. O púlpito da igreja não pode ser transformado em “palanque eleitoreiro”. As orientações devem ser claras, precisas e esclarecedoras, contudo, não se pode ocupar o espaço da palavra ou da adoração. As convicções cristãs devem ser conhecidas por todos bem como a posição da igreja. Se houver coerência entre o discurso e a fé cristã, certamente a igreja acatará o conselho da liderança. Por outro lado não se pode confundir a cruz de Cristo com ideologias partidárias. A renovação política não pode ser substituída pela transformação espiritual. A degeneração da sociedade não será resolvida ou corrigida por uma série de leis que inibam a má conduta. Somente a propagação do evangelho de Jesus Cristo pode deter o declínio e a ruína moral de nossa sociedade. A igreja deve fazer oposição a qualquer ideia que desrespeite a mensagem do evangelho. Precisa se mobilizar para erradicar os políticos corruptos em todas as esferas. Porém, a batalha nas urnas será constante. Se usarmos apenas a ferramenta política certamente venceremos umas batalhas e perderemos outras. Mas, se cumprirmos nosso papel de sal da terra e luz do mundo, o poder do evangelho pode desarraigar para sempre a iniquidade dos corações. Levanto a bandeira da conscientização política e sou favorável a mobilização evangélica. Entendo que o cristão deva divulgar sua posição coerente com o evangelho. No entanto, lembro que nossa luta não é contra a carne e o sangue (Ef 6.12). A Igreja não pode limitar-se a fazer oposição e oferecer resistência à iniquidade no poder temporal. Não pode depositar sua confiança e esperança em decisões políticas, embora não deva subestimá-la ou negligenciá-la. As lideranças devem promover o “voto consciente” sem descuidar-se do avivamento espiritual. O avivamento liderado por JohnWesley (1703-1791) trouxe mudanças sociais na Inglaterra. Porque na realidade o mal a ser combatido é o pecado.