Por muitas décadas a política foi satanizada no
meio evangélico. Ensinava-se que a política era coisa do diabo. Como resultado
desta ignorância cultural, a igreja permitiu com sua omissão, que o poder
público fosse exercido por ateus, ímpios e imorais. Pela inexistência de
consciência política os evangélicos se resignavam em votar no candidato “menos
pior”. Este comportamento desastroso contribuiu com a eleição, por exemplo, de
governos formados de adeptos do “laicismo fundamentalista” (em oposição aos valores
cristãos) “manipuladores de dados” (na imposição do senso comum) e “opositores
da liberdade religiosa” (na elaboração de leis secularistas). A sociedade
passou a ser massacrada pela corrupção, usura, suborno, imoralidade e violência
assustadora.
Consciência política
Aos poucos, diante do cerceamento de algumas
liberdades, a igreja começou a despertar para a realidade política. As mudanças
e as transformações sociais passam pelo processo político. Por que então não
eleger candidatos que reproduzam a moral cristã? Por que não apoiar políticos
não corruptos e que rejeitam as leis contrárias aos princípios cristãos? Para
que isso seja possível faz-se necessário que a igreja amadureça e desfrute de
“consciência política”. A igreja deve ser consciente das questões que são
debatidas nas Assembleias Legislativas e Congresso Nacional. A conscientização
deve ser fundamentada em princípios cristãos. As propostas e as ideologias dos
partidos políticos devem ser analisadas sob a ótica cristã. A postura, as
propostas e os ideais do candidato precisam ser avaliados à luz das Escrituras.
Esta conscientização tem florescido. Os evangélicos, antes marginalizados pelos
políticos, começaram a experimentar o poder do voto. Em outubro de 2010, na
campanha presidencial, o voto dos evangélicos forçou o segundo turno nas
eleições. Uma demonstração que o cristão pode fazer valer suas convicções se
votar conscientemente. Mercê desta realidade, um movimento cada vez mais
crescente, acredita que é possível moralizar o poder público, substituindo os
políticos corruptos e liberais por políticos cristãos e conservadores.
O perigo
da politicagem
Como em algumas das igrejas a conscientização política ainda é
incipiente, faz-se necessário um alerta referente ao perigo da politicagem. Os
dicionários em geral conceituam politicagem como: “política reles e mesquinha
de interesses pessoais”. O perigo dos atos politiqueiros é colocar em
descrédito o evangelho e a igreja cristã. O cristão fiel jamais pode compactuar
com este procedimento. Os princípios cristãos não podem ser negociados. A ética
e a moral cristã não podem ser vendidas e nem compradas. Aqueles que são
contrários as convicções cristãs não podem receber o apoio e nem o voto da
igreja. O cristão não pode se iludir com o esplendor das promessas e nem com as
supostas garantias apresentadas pelos candidatos. Os que não compartilham os
ideais do evangelho não devem ser homologados pelo povo de Deus. No
cristianismo primitivo a igreja em Corinto foi advertida a observar este
princípio (2Co 6.14). Contudo, apesar da orientação bíblica, obreiros
fraudulentos ludibriam e manipulam as ovelhas sob seus cuidados. Interessados
em levar vantagem pessoal não hesitam em apoiar candidatos políticos contrários
a fé cristã. Vislumbram benefícios econômicos e “status” social. Sem nenhum
pudor, ao leve toque musical, prostram-se diante da estátua de Nabucodonozor e
com esta conduta negam a fé e maculam o o nome de Cristo. Estão interessados
emmanter ou adquirir privilégios e indispostos a sofrer retaliações por causa
do evangelho. Não satisfeitos em apoiar candidatos de conduta repreensível,
soma-se a este erro, o uso da mídia e do púlpito da igreja para promover apoio
a candidatos que vivem na iniquidade. O cristão é cidadão e deve exercer sua
cidadania. Contudo, não pode esquecer que também é cidadão do céu. Como
Embaixador de Cristo representa os interesse do reino de Deus na terra.
Portanto, não pode apoiar, nem permitir ou promover apoio aqueles que afrontam
o reino de Deus. Resistência reinante
Apesar de a conscientização estar
florescendo ainda existe focos de resistência. Não poucos crentes são
contrários ao envolvimento da igreja ou a posição pastoral em relação à
política. Acreditam que a igreja não pode comprometer-se com o poder temporal
sob o risco dos escândalos. O argumento dos escândalos não se sustenta, pois
infelizmente eles são inevitáveis (Mt 18.7). Não é por causa de uma maça podre
que vamos recusar a cesta toda. Como a igreja está engatinhando neste mister,
cabe ao líder o uso de diplomacia e prudência. É importante levar em
consideração o aspecto cultural e o grau de instrução da membresia. Suas
convicções devem ser ouvidas e respeitadas. Qualquer persuasão só pode ser
levada em efeito sob a autoridade da Palavra de Deus. Todo o cristão deve ser
conscientizado que como discípulos de Cristo devemos andar como Ele andou (1Jo
2.6). Neste caso, é de bom alvitre, que cada cristão faça a seguinte pergunta
reflexiva: “Em meus passos, que faria Jesus?” Será que Cristo apoiaria a
corrupção, a violência e a imoralidade?
Como delimitar nossa atuação
Os
princípios éticos devem ser observados. O púlpito da igreja não pode ser
transformado em “palanque eleitoreiro”. As orientações devem ser claras,
precisas e esclarecedoras, contudo, não se pode ocupar o espaço da palavra ou
da adoração. As convicções cristãs devem ser conhecidas por todos bem como a
posição da igreja. Se houver coerência entre o discurso e a fé cristã,
certamente a igreja acatará o conselho da liderança. Por outro lado não se pode
confundir a cruz de Cristo com ideologias partidárias. A renovação política não
pode ser substituída pela transformação espiritual. A degeneração da sociedade
não será resolvida ou corrigida por uma série de leis que inibam a má conduta.
Somente a propagação do evangelho de Jesus Cristo pode deter o declínio e a
ruína moral de nossa sociedade. A igreja deve fazer oposição a qualquer ideia
que desrespeite a mensagem do evangelho. Precisa se mobilizar para erradicar os
políticos corruptos em todas as esferas. Porém, a batalha nas urnas será
constante. Se usarmos apenas a ferramenta política certamente venceremos umas
batalhas e perderemos outras. Mas, se cumprirmos nosso papel de sal da terra e
luz do mundo, o poder do evangelho pode desarraigar para sempre a iniquidade dos
corações. Levanto a bandeira da conscientização política e sou favorável a
mobilização evangélica. Entendo que o cristão deva divulgar sua posição
coerente com o evangelho. No entanto, lembro que nossa luta não é contra a
carne e o sangue (Ef 6.12). A Igreja não pode limitar-se a fazer oposição e
oferecer resistência à iniquidade no poder temporal. Não pode depositar sua
confiança e esperança em decisões políticas, embora não deva subestimá-la ou
negligenciá-la. As lideranças devem promover o “voto consciente” sem
descuidar-se do avivamento espiritual. O avivamento liderado por JohnWesley
(1703-1791) trouxe mudanças sociais na Inglaterra. Porque na realidade o mal a
ser combatido é o pecado.
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